Maquiagem- meu essencial pra vida ficar leve, alegre e descomplicada!

Depois de ANOS a fio num processo pessoal e intransferível de auto-conhecimento ( rsrsrs) e avaliação realista dos aspectos da vida que adoraria simplificar, alcancei o meu kit mínimo da maquiagem jamais antes atingido nessa encarnação:

- 2 batons ( cor de boca e um rosa)
- 1 rímel preto a prova d'água.
-um blush rosado
-um demaquilante ( shampoo Johnsons resolve tb, mas o demaquilante é uma comodidade a mais)
-um lápis de olho a prova d'água grafite.

Hj joguei fora meu lápis bege, que usava raramente, e já estava vencido!
Cada um na sua, mas descobri que minha rotina fica muito mais leve e gostosa assim!
 
Texto sensacional e super oportuno da Carol, do blog Small Fashion Diary:


Muito tem se falado sobre a nova síndrome que desponta na juventude conectada: FOMO. Fear of Missing Out (medo de ficar por fora). Aquele sentimento de angustiante onde todo jovem tem a urgência de participar de todos os eventos, incluir-se em todas as badalações, conhecer todos os lugares, ter todas as roupas, saber de todos os assuntos, frequentar todas as festas e não perder absolutamente nada do que os outros falam, postam ou vivem. Se por um lado isso alimenta uma certa quebra na inércia típica de uma juventude apática, acostumada a ficar sentada no sofá assistindo TV, por outro lado nos leva a um desespero de viver, tão grande e exaustivo, que é difícil ter tempo (e saúde) para cumprir todos os “compromissos” inadiáveis que a vida nos oferece e pior, é mais difícil ainda tentar acompanhar o ritmo dos outros ao invés do nosso. (sim, eu já tentei acordar às 5 da manhã pra correr, igual a Carol Buffara. Não deu. -.-')

Esse “medo estar por fora do que tá rolando” faz com que nenhuma experiência seja realmente vivida sem uma boa dose de ansiedade/desespero. Toda a experiência é fotografada, tratada e postada no instagram, mesmo que a festa, o evento, a exposição, a comida, o lugar, sejam uma bosta, mesmo que você acorde pra correr e só consiga fazer 2km, chorando. Esse movimento do “sou mais feliz/foda que você” só gera ansiedade para quem assiste de camarote e para quem, depois de postar, continua não vivendo o momento, mergulhado na espera do próximo like. Quando eu descrevo esse fenômeno, me incluo nele. Escrevo com a propriedade de quem posta o que vive todos os dias por que, por momentos, acredito que serei mais feliz compartilhando minha felicidade. É uma necessidade egocêntrica que a gente desenvolve e nem sabe como. É quase um transtorno que custa a controlar, principalmente quando essa tal felicidade só nos parece verdadeira e palpável quando é tornada pública. Toda foto gera uma expectativa, todo por do sol é visto pela câmera do iphone, toda foto espontânea com as amigas é ensaiada, e aí o barco atravessou o mar, o sol desceu no horizonte, a risada mais gostosa foi perdida, e eu não vi passar. Você não viu passar. E o que nos vai restar são alguns backups esquecidos, de lembranças editadas. 

Talvez o caminho seja desenvolver uma nova síndrome que equilibre nosso "egosistema": NOMO.Need of Missing Out. Criar a necessidade de perdermos a foto perfeita, perder a pose, perder a noção do tempo, perder até o sinal do 3G, para viver de verdade. Para acabar com a angústia de viver para o olhar dos outros como vitrines ambulantes, para ser feliz com o dia desbotado, ou encontrar prazer numa faxina no quarto, ou passar o sábado à noite de pijama, assistindo netflix. Essa necessidade de “sumir” de tudo pode fazer com que os outros pensem que você não sabe viver, não participa, está ausente, está triste, ostracizada, mas a verdade é que, ao nos desligarmos um pouco dos outros, podemos fazer companhia a nós mesmas e encontrar um pouco de silêncio num mundo de imagens tão barulhentas e filtros ultrassaturados.

Enquanto todo mundo grita sua própria alegria, nós podemos silenciar a nossa e saborear secretamente a euforia de sermos imensa e plenamente felizes em nossos casulos, comendo pipoca de microondas. Podemos olhar sem filtros, sem hashtags, sem encaixotar a vida nas molduras quadradas do instagram. É, de vez em quando é bom perder “isso tudo que está acontecendo”, é bom manter alguns momentos intactos, mesmo que seja só de vez em quando. Quando a bateria acaba ou o sinal do 3G cai sem prazo pra voltar.  :)

O fim de semana vem aí. Let's miss out?

Beijos, Carols

Quando até o lazer vira obrigação...

Curioso que, em nossa sociedade, somos oprimidos pq pelo fazer, fazer, fazer, estar sempre fazendo algo! E o dolce far niente? E a vida contemplativa? E o ocio criativo? Eu, pelo menos, NECESSITO deles! Até os dias de suposta folga, se bobear, pode virar gincana com imensas listas do que "tem que" fazer, mesmo se tratando de diversão.

Belo texto de Ana Jácomo ( em parte xará)


O tempo, de vento em vento, desmanchou o penteado arrumadinho de várias certezas que eu tinha, e algumas vezes descabelou completamente a minha alma. Mesmo que isso tenha me assustado muito aqui e ali, no somatório de tudo, foi graça, alívio e abertura. A gente não precisa de certezas estáticas. A gente precisa é aprender a manha de saber se reinventar. De se tornar manhã novíssima depois de cada longa noite escura. De duvidar até acreditar com o coração isento das crenças alheias. A gente precisa é saber criar espaço, não importa o tamanho dos apertos. A gente precisa é de um olhar fresco, que não envelhece, apesar de tudo o que já viu. É de um amor que não enruga, apesar das memórias todas na pele da alma. A gente precisa é deixar de ser sobrevivente para, finalmente, viver. A gente precisa mesmo é aprender a ser feliz a partir do único lugar onde a felicidade pode começar, florir, esparramar seus ramos, compartilhar seus frutos.
Ana Jácomo

A doença de ser normal- por Carolina Bergier na Superinteressante


por Carolina Bergier
Já foi normal duas pessoas se digladiarem até a morte para entreter a multidão. Também já foi normal queimar mulheres na fogueira por bruxaria e fazer pessoas trabalharem sem remuneração com direito a castigos físicos só pela cor da pele. Era normal também humanos se alimentarem de sua própria espécie e casarem sem amor. Já foi normal passar 40 horas da semana fazendo algo que se detesta, mentir para ganhar dinheiro e devastar florestas inteiras em busca de um suposto desenvolvimento. Peraí, este último ainda é normal. Afinal, será que ser normal - e achar normais coisas que não deveriam ser - pode ser uma doença?

Segundo alguns psicólogos, sim. A doença de ser normal chama-se, segundo eles, normose: um conjunto de hábitos considerados normais pelo consenso social que, na realidade, são patogênicos em graus distintos e nos levam à infelicidade, à doença e à perda de sentido na vida.

O conceito foi cunhado quase que simultaneamente pelo psicólogo e antropólogo brasileiro Roberto Crema e pelo filósofo, psicólogo e teólogo francês Jean-Ives Leloup, na década de 1980. Eles vinham trabalhando o tema separadamente até que um terceiro psicólogo, o francês Pierre Weil, se deu conta da coincidência. Perplexo, Weil conectou os dois, e os três juntos organizaram um simpósio sobre o tema em Brasília, uma década atrás. Do encontro, nasceu uma parceria e o livro Normose: A patologia da normalidade.

No fim dos anos 70, Crema estava encucado com o fato de muitos autores apontarem uma "patologia da pequenez": o medo de se deixar ser em sua totalidade. Ele deparou-se com muitos pensadores, entre eles o alemão Erich Fromm (1900-1980), que falava do medo da liberdade, e o suíço Carl Jung (1875-1961), que afirmava que só os medíocres aspiram à normalidade. Crema misturou ao caldo a célebre declaração do escritor britânico G.K. Chesterton (1874-1936), que disse que "louco é quem perdeu tudo, exceto a razão", e acrescentou os anos de observação e prática em sua clínica pedagógica.

Assim nasceu o conceito de normose, que, segundo ele, "ocorre quando o contexto social que nos envolve caracteriza-se por um desequilíbrio crônico e predominante". A normose torna-se epidêmica em períodos históricos de grandes transições culturais - quando o que era normal subitamente passa a parecer absurdo, ou até desumano. Foi o que aconteceu no final do período romano, em relação à perseguição de cristãos, ou no início da Idade Moderna, com o fim da legitimidade da Santa Inquisição, ou no século 19, com a perda de sustentação moral da escravidão. E, segundo Crema, Leloup e Weil, é o que está acontecendo de novo, com a crise dos nossos sistemas de produção, trabalho e valores.

"O novo modelo é ainda embrionário, e os visionários dessa possibilidade de sociedade não-normótica ainda são minoria", diz Crema. Enquanto a maioria de nós se adapta a um ambiente social doente, quem resiste à normose acaba considerado desajustado, por não obedecer ao estado "normal" das coisas.

Como aquele cara que, mesmo ganhando o suficiente para fornecer educação, moradia e alimentação para si e seus filhos, é considerado vagabundo e louco por, em plena quarta-feira ensolarada, liberar as crianças da aula e levá-las à praia. Mas como? Em dia de semana? As crianças vão faltar aula? Pois é. De repente, ele acha que um dia na natureza vai fazer mais bem a seus filhos do que horas sentados em sala de aula. Será que ele não é saudável, e doentes estão os outros?

Desnormotização


Para a filósofa Dulce Magalhães, que escreve sobre mudanças de paradigmas, o normótico acredita que geração de renda e falta de tempo para si ou para a família são indissociáveis. "As pessoas consideram que trabalhar muitas horas, colocar em risco sua saúde e suas relações é normal", diz ela. "Mas isso tem um custo pessoal e social alto demais, que acabam levando a problemas de saúde pública e violência, por exemplo."

Dulce acha que a cura para a normose está em mudarmos de modo mental, abandonando o modelo da escassez, que hoje rege o mundo, e abraçando o da abundância. Ela explica: "Desde a infância, aprendemos que o que vem fácil vai fácil e que, se a vida não for difícil, não é digna. Precisamos mudar isso e entender que esforço não é tarefa." Quantos de nós chegamos em casa reclamando para mostrarmos (a nós mesmos e aos outros) que trabalhamos muito e tivemos um dia duro, como se isso trouxesse algum tipo de mérito?

Segundo Crema, cada um de nós tem talentos diversos, mas "o normótico padece de falta de empenho em fazer florescer seus dons e enterra seus talentos com medo da própria grandeza, fugindo da sua missão individual e intransferível". "Quando temos necessidade de, a todo custo, ser como os outros, não escutamos nossa própria vocação", acredita.

O carioca Eduardo Marinho, hoje com 50 anos, percebeu cedo que não queria ser como os outros. Filho de militar, abriu mão de sua condição financeira e de sua faculdade ao se dar conta, aos 18 anos, que não queria olhar para sua vida quando velho e pensar que não tinha feito nada relevante. "Não queria ser bem-sucedido e me sentir fracassado". Eduardo saiu pelo País pedindo abrigo e comida em troca de favores e buscando algo que o preenchesse. Depois de passar por poucas e não tão boas pelo Brasil, deu voz a sua vocação. Hoje é artista plástico.

Ele acredita que a desnormotização se inicia dentro de cada um: "Que tal olhar para dentro de si mesmo? É aí que começa a revolução", sugere. Claro que, para isso, não é mandatório dormir nas ruas. Fazer o trajeto que Eduardo escolheu para si pode ser perigoso e não há nenhuma garantia de sucesso.

Bug cerebral


A cura da normose é trabalho individual, mas alguns esforços sociais podem ajudar. Para começar, seria um adianto se tivéssemos um novo modelo educacional. A escola poderia ser o lugar onde as crianças descobrem suas verdadeiras vocações - em vez de tentar padronizar os alunos e convencê-los a serem normais.

Mundo afora, estão surgindo escolas com uma nova lógica, como a Escola da Ponte, em Portugal. A instituição não segue um sistema baseado em séries, e os professores não são responsáveis por uma disciplina ou por turmas específicas. As crianças e os adolescentes que lá estudam definem quais são suas áreas de interesse e desenvolvem seus próprios projetos de pesquisa, tanto em grupo como individuais.

Algo similar parece estar acontecendo no mundo empresarial, onde mais e mais empreendimentos estão dando voz à liberdade individual. O caso clássico, sempre citado, é o do Google, cuja sede, em Mountain View, na Califórnia, conta com salas de jogos, videogames, espaços ao ar livre e tempo reservado para que cada funcionário desenvolva seus próprios projetos para a empresa, com total autonomia.

Claro que não há vagas para todos nós no Google nem para todos os nossos filhos na Escola da Ponte. A cura da normose não vai ser resultado de uma ou outra iniciativa isolada - ela só vai ser possível quando houver no mundo gente suficiente disposta a questionar tudo o que achamos normal.

E talvez isso demore anos para acontecer. A explicação para isso pode estar num bug que todos carregamos no cérebro, que tem uma tendência de recusar sempre novos jeitos de olhar o mundo. É o que explica o psicólogo israelense Daniel Kahneman, ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 2002, em seu livro Rápido e Devagar: Duas formas de pensar. Segundo ele, nosso cérebro confunde o que é familiar com o que é correto: ao ver ou sentir algo que desperta alguma memória, o cérebro define aquele "familiar" como "correto", da mesma maneira que o novo é decodificado como passível de desconfiança.

Esse sistema foi muito útil para nossos antepassados homens das cavernas, que não podiam mesmo sair comendo qualquer frutinha nova que aparecesse à sua frente. Mas, nos dias de hoje, que exigem novas ideias para lidar com um mundo em mudança constante, esse mecanismo cerebral virou um entrave à inovação. Segundo essa tese, a normose não é uma doença: é uma característica humana, moldada pela evolução. Ou seja, talvez ser normótico seja normal.

Você tem normose?


Normose é um conjunto de hábitos considerados normais pelo consenso social que, na realidade, são patogênicos e nos levam à infelicidade, à doença e à perda de sentido na vida.

"Que tal olhar para dentro de si mesmo?

É aí que começa a revolução". Importante notar que, para olhar para dentro e descobrir sua vocação, não é mandatório dormir pelas ruas do país.

Para saber mais

Normose: A patologia da normalidade
Jean-Yves Leloup, Pierre Weil e Roberto Crema, Verus, 2003
Rápido e Devagar: Duas formas de pensarDaniel Kahneman, Objetiva, 2012

Impermanência

Como praticante recente, ainda não me sinto apta a dar palestras sobre conceitos mas, sendo fiel ao título do blog, discorrerei sobre o tema breve e diletantemente.

Dois dos meus favoritos conceitos do Budismo são "vida humana preciosa" e "impermanência". Hoje a impermanência se mostrou pra mim,  em toda a sua força e dramaticidade. Fui colhida de surpresa com a morte súbita e violenta de uma pessoa que, em cerca de 6 meses de convívio diário, me inspirou admiração, respeito, carinho e camaradagem. Hoje nosso professor, treinador, motivador e camarada foi embora de forma abrupta, deixando tantos alunos, como eu, perplexos.

Isso me traz uma retrospectiva.Meu primeiro contato com a impermanência foi aos 4 anos, quando meu pai morreu repentinamente, aos 36 anos de idade, num dia que até então parecia normal e do qual me lembro detalhes visuais e fáticos com uma riqueza de detalhes que faz alguns duvidarem.Não sei se todas as crianças são assim.

Aos 8 anos de idade , numa viagem com meu avô paterno, lembro da notícia da morte súbita de mãe dele, minha bisa, tb repentinamente. Ela, apesar de já bastante idosa, era muito saudável e autônoma, uma verdadeira força da natureza, e morreu num acidente de trânsito.

Lá pelos meus 12 anos, lá se foi um tio paterno, o bonachão tio Paulo, aos 42, de infarto fulminante quando trabalhava. Recebemos a notícia juntos, eu e meu avô, e de lá fomos pra via crúcis de liberação do corpo em seus detalhes logísticos.Lembro com detalhes do percurso que fizemos e da dificuldade de saber onde se encontravam os outros membros familiares, sobretudo a viúva, num tempo pré-celular. Lembro até hoje de avistar a minha tia à distância, no pátio sombrio e mal cuidado dos fundos do antigo Instituto Médico Legal da Rua Mem de Sá, e de corrermos para um abraço. Do perfume dela, ou melhor, deles...que era um perfume que o casal usava.

Aos 14, mais uma vez no camarote da impermanência dramática, lá estava eu, com o avô materno baleado na rua, indo parar em emergência do Salgado Filho. Eu, pra não variar, acompanhando tudo de perto e me lembrando de detalhes visuais minuciosos, como sempre.

Em suma: não sei como não me tornei budista há mais tempo, a lição de impermanência mega- ultra- hiper- super-extra-full-blaster nunca me faltou.

Dessa vez, tinha voltado de um retiro budista no dia anterior, que foi aproveitado ao máximo de minhas atuais capacidades.E, nesta manhã de segunda, recebi a notícia do ocorrido, me impactei e assisti o impacto nas demais pessoas.

Viver pode ser dramático. E geralmente é. As pessoas podem fingir normalidade, pintar as unhas de azul para distrair, comer pipoca vendo filme....ir à praia....mas enfrentar a inevitáveis insconstância e incerteza inerentes à nossa condição, sinceramente, é tarefa para fortes.No entanto, não temos a opção de não enfrentar.Temos "apenas"a opção de como iremos nos preparar para isso. Para a morte. Para as reviravoltas. Para as surpresas. Para os dissabores. Para as despedidas. Para os términos. Para as mudanças.Para os fins e para as pausas.Para os suspenses. Também para as alegrias, para as superações, para as boas surpresas.

Isso me lembra que o conceito de impermanência também foi abordado, de forma magistral, fora desta tradição, no conto a seguir, de Malba Tahan:


Era uma vez um rei que disse aos sábios da corte:
_ Estou fabricando um precioso anel. Adquiri um dos melhores diamantes possíveis. Quero esconder dentro do anel uma mensagem que possa me ajudar em momentos de desespero total e que ajude meus herdeiros e os herdeiros de meus herdeiros para sempre. Tem que ser uma mensagem pequena, que caiba debaixo do diamante do anel.
Todos que escutaram eram sábios, eruditos, que poderiam escrever grandes tratados, mas, uma mensagem com não mais de duas ou três palavras que pudessem ajudar em momentos difíceis…
Eles pensaram, procuraram em livros, mas não puderam achar nada.
O rei tinha um velho criado que também tinha sido criado de seu pai. A mãe do rei morreu cedo e este criado havia cuidado dele, então era tratado como se fosse da família. O rei sentia um imenso respeito pelo velho homem, de forma que também o consultou. E este lhe falou:
_ Não sou sábio, nem erudito, nem um acadêmico, mas conheço uma mensagem. Durante minha vida no palácio, conheci todos os tipos de pessoas e, em uma ocasião, conheci um místico. Era convidado de seu pai e estava a seu serviço. Quando, com gesto de agradecimento deu-me esta mensagem, o velho homem escreveu em um pequeno papel, dobrou e entregou ao rei. _ “Mas não leia.” – disse ele – “Mantenha-o escondido no anel, somente abra quando não tiver outra saída”.
Esse momento não tardou a chegar. O seu Reino foi invadido e o rei perdeu a batalha. Estava escapando em seu cavalo e seus inimigos o perseguiam. Estava só, e seus perseguidores eram muitos. Chegou em um lugar onde o caminho havia acabado, totalmente sem saída. Na frente havia um precipício com um vale profundo, cair seria o fim. Não podia voltar, porque o inimigo havia fechado o caminho. Já se podia ouvir o barulho dos cavalos. Não podia continuar e não havia outro caminho.
De repente lembrou-se do anel. Abriu-o, tirou o papel e lá encontrou a mensagem pequena, tremendamente valiosa, que, simplesmente, dizia:
“Isto também passará”.
Enquanto lia a mensagem, sentia que caía sobre ele um silêncio. Os inimigos que o perseguiam deveriam ter se perdido na floresta ou se enganado de caminho. O certo é que pouco a pouco deixou de escutar os cavalos.
O rei sentia-se profundamente grato ao criado e ao místico desconhecido. Aquelas palavras eram milagrosas. Dobrou o papel, pôs novamente no anel, juntou seus exércitos e reconquistou o Reino.
No dia em que entrou novamente vitorioso no palácio, tinha uma grande celebração, com músicas, danças… e ele sentia muito orgulho de si mesmo.
O velho criado estava ao seu lado na carruagem e falou:
_ Este momento também é adequado, olhe novamente para a mensagem.
_ Por quê? Agora eu sou vitorioso, as pessoas celebram minha volta, eu não estou desesperado, não estou em uma situação sem saída.
_ Escute-me – disse o velho criado – “Esta mensagem não é só para situações desesperadoras, mas também prazerosas. Não é só para quando estiver derrotado, mas para quando estiver vitorioso. Não só para quando for o último, mas para quando for o primeiro”.
O rei abriu o anel e leu a mensagem:
“Isto também passará”.
Novamente sentia a mesma coisa, o mesmo silêncio em meio a multidão que celebrava e dançava, mas o orgulho e o ego haviam desaparecido. O rei pôde compreender a mensagem. Tinha sido iluminado.
Então o velho homem falou:
_ Recorda-se de tudo o que você passou? Nenhuma coisa ou emoção é permanente. Como o dia e a noite, há momentos de felicidades e momentos de tristezas. Aceite-os como parte natural das coisas, porque eles fazem parte da natureza de sua vida.
Malba Tahan



Assuma suas culpas para ganhar liberdade e viver melhor- Por Rafael Tonon na revista Vida Simples



Livre-se as angústias assumindo suas culpas por atitudes impensadas
Foto: Renato Parada
Em seu texto no qual descrevia o preceito do Iluminismo, o filósofo alemão Immanuel Kant dizia que o movimento baseado na razão era a saída do homem de sua menoridade, pela qual ele próprio é responsável. Kant defendia que o homem está em estado de infância, porque não é capaz ou não quer dirigir a si mesmo. "Se eu tenho um livro que me faz as vezes de entendimento e se tenho um médico que decide por mim sobre meu regime, não preciso me preocupar", escreveu o filósofo, para explicar esse comportamento transferidor de responsabilidade a que nós nos submetemos.
Transferir nossas responsabilidades é um comportamento normal, que todo mundo invariavelmente comete. Trata-se de uma tendência de autopreservação, um mecanismo de defesa a que nossa mente recorre quando a carga fica pesada. "Na medida em que projetamos sobre uma pessoa nossos impulsos inconscientes, diminuímos nossa ansiedade", explica a psicóloga Vera Chvatal, do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Unicamp.

Liberdade responsável

O filósofo Renato Janine Ribeiro questiona a relação liberdade e responsabilidade tal qual a conhecemos. Ele defende que a responsabilidade é que pressupõe a liberdade, não o contrário. "Só quando sou capaz de responder pelos meus atos é que eu tenho a liberdade para fazer minhas escolhas", afirma. Diante da nossa realidade e da responsabilidade que ela nos impõe é que somos livres para fazer outras escolhas, tomar novas decisões.

O primeiro passo para nos tornarmos livres é assumir quem somos. "Se eu negar o que eu sou, minha liberdade fica muito mais difícil. Afinal, você só consegue fazer escolhas a partir daquilo que você já é. E só é possível mudar quando assumirmos nossa condição", completa.

A culpa alheia

"A questão é que o alívio de transferir responsabilidades para os outros é ilusório", explica a escritora e filósofa americana Marietta McCarty, autora do livro How Philosophy Can Save Your Life ("Como a filosofia pode salvar sua vida”, sem edição no Brasil). "Se a culpa é do outro, ela não me pertence, então não tenho nada a fazer a respeito", pensamos. Dessa forma, acabamos nos isentando não apenas da culpa, mas da capacidade de lidar com ela.

Essa isenção sobre nossos atos começa a se formar durante a infância. Quando nascemos, nossa família começa a nos passar a noção de responsabilidade a partir de valores pessoais, sociais, culturais e aprendemos a responder a uma autoridade superior que primeiramente serão os nossos pais. "Se esses valores não nos foram inculcados passaremos a atribuir a culpa de nossos atos aos outros", afirma a psicóloga Vera Chvatal.

É preciso, como defendia Kant, sair desse estado de infância e passar a assumir responsabilidades para termos uma vida mais plena. Porque o preço da inocência é mesmo a impotência. Isso pode eximi-la das conseqüências dos seus atos, mas ao mesmo tempo lhe tira o prazer de viver livremente.

LIVROS
Foi Apenas um Sonho, Richard Yates, Alfaguara
O Governo de Si e dos Outros, Michel Foucault, Martins Fontes
A Última Razão dos Reis, Renato Janine Ribeiro, Companhia das Letras