"Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Vivem pros seus maridos
Orgulho e raça de Atenas
Quando amadas se perfumam
Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas"
"Quando eles se entopem de vinho
Costumam buscar um carinho
De outras falenas
Mas no fim da noite, aos pedaços
Quase sempre voltam pros braços
De suas pequenas,
Helenas"
"Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Geram pros seus maridos
Os novos filhos de Atenas"
(Chico Buarque)
Outro dia, por motivos personalíssimos que não vem ao caso minuciar, me vi compelida a repensar o nosso papel de mulher.O papel tradicional da mulher sabemos muito bem qual era...e nos habituamos a dizer que muita coisa mudou desde o primeiro sutiã queimado e da primeira cartela de pílula.Ah, tá.Votamos, trabalhamos fora,não contamos mais com homens provedores ( bom, até onde tenho notícia da mulherada que me circunda mais diretamente)...Algumas até arriscam produções independentes nas quais o papel do homem fica restrito a um singelo (e, por ora, ainda insubstituível) espermatozóide.Dirigimos, saímos ( geralmente em grupo de amigas...pq muita coisa mudou, mas nem tanto assim, né?!)Vejo que várias de nós ainda tem pudores em ir sozinha, por exemplo, a cinemas e restaurantes.E não é a toa: há um certo peso social nisso.Homens saem sozinhos muito mais impunemente do que as mulheres.E ninguém pergunta, como já perguntaram pra mim," onde estão as suas amigas?" ou fazem cara de que viram fantasma se ouvem a resposta de que não se veio com amiga alguma.
Eu, como filha única,tive óbvios incentivos extras para aprender a sair sozinha desde cedo.Portanto, devo admitir que o mérito é mais materno do que meu.Eu não tive lá muita escolha mesmo.Filho único ou desenvolve a autonomia na marra, ou desenvolve a autonomia na marra.E, não adianta protestar, filhos únicos sempre vão ouvir o diagnóstico-padrão de que filho-único-não-tem-jeito-é-mimado.Tsc tsc tsc.
Nunca vou esquecer de uma analogia do psiquiatra Paulo Gaudêncio.Certa vez ele foi fazer uma palestra num teatro de cidade do interior do país e ficou boquiaberto ao se deparar com um foyer futurista onde ele menos imaginava.Dali a pouco as portas para o interior do teatro se abriram e ele quase caiu pra trás de novo: apesar do exterior mega-jetsoniano, o interior era super-flinstoniano.Numa admirável presença de espírito, ele se deu conta que na verdade NÓS mesmos também somos assim: o exterior sempre aparenta ser mais moderno do que o interior.
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2 comentários :
Primeira vez aqui.
Gostei do texto.
Me sinto fora do tempo (não sei se Jetson ou Flintstone).
Mas me sinto, desde pequena, diferente.
E vejo tanto hipocrisia... As "moderninhas" da minha adolescência todas sonhavam (secretamente) e vivem um futuro exatamente igual ao das "caretinhas".
Eu era a do meio, sempre. Aquela que frequente os dois lados, mas não se identifica com nenhum.
Tenho um filho (sou solteira e não casei, ao contrário das moderninhas que engravidaram e casaram na hora!), mas tento dar a ele o máximo de independência.
E com certeza, sou mais moderninha por fora, não moderninha, mas diferente, sabendo que não sou igual e sendo eu mesma, por dentro me sinto suuuper careta!!
Amei! Que maravilhas as analogias que vc faz! Tô amando isso aqui!
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