O teatro do cotidiano

Todo dia ela faz tudo sempre igual
Me sacode às seis horas da manhã
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã...
( Chico Buarque)

Vivemos de cotidiano, a maior parte de nossas vidas realmente se desenrola de segunda a sexta, em dias úteis, em meses de trabalho quase sempre à espera do happy hour da sexta-feira à noite, da viagem do fim de semana, das tão almejadas férias, da promoção, do casamento, da mudança de casa...

Vivemos, na maioria,quase sempre ou no passado ou no futuro.Cronicamente.Doentiamente.Enquanto sonhamos e suspiramos, o presente se esvai e vira passado.Nada mal em planejar, pelo contrário: é mesmo preciso.Nada demais em se ter passado e aprender com ele.No entanto, e isso qualquer guru oriental pode dizer, muitas vezes não conseguimos o que deveria ser básico: nos concentrarmos no aqui e no agora.Se conseguíssemos, certamente sofreríamos menos.

Quanta coisa a gente teme e nunca acontece?! E, por outro lado: quanta coisa nunca tememos e no entanto aconteceram?! Shit happens, dizem os americanos...Eu ainda acho que essa pensação toda no futuro é uma tentativa vã de nos acalmarmos, de conseguir dormir com o barulho da condição humana tão precária e de nos convencermos que ainda temos algum controle, não estamos completamente “ na mão do palhaço”. Planejar um pouco ainda vai, mas se refugiar do presente láaaa no futuro que nunca chega é bem outra coisa.

Por outra lado, defensora ardorosa da Psicanálise que sou ( sem ser xiita), também não renego a importância do passado.Se pudermos olhar pra trás,avaliarmos e festejarmos nossos progressos e corrigir nossa rota, que maravilha!!!!

Pode parecer injusto, mas a vida muitas vezes é uma sucessão de atos repetitivos, e, para nosso próprio bem, é bom aprender a achar graça nisso. Entrar no piloto automático é coisa muito fácil, difícil é permanecer atentos ao desenrolar da vida, com todos os seus ricos detalhes e oportunidades, bem diante dos nossos olhos.Mas fácil mesmo, e pra isso não é preciso treino nem persistência, é nos entorpecermos, preenchidos de passado ou de futuro.

1 comentários :

Renata Iannarelli disse...

Surpresa mais que agradável ver você no blog, viu?
Sempre fui de escrever, tenho algumas coisas guardadas, mas ultimamente não tenho publicado. Vc me animou!
Beijocas.