Ministério das perguntas cretinas

Meu avô, com seu senso de humor pra lá de peculiar, sempre redargüia quando alvo ou testemunha de alguma pergunta cretina. Até pensei que “ Ministério das perguntas cretinas” fosse termo cunhado por ele próprio. Recentemente pesquisando percebi que não: há um livro do Millôr Fernandes com esse título.

Sábado uma amiga chegou de sua loja bufando e soltando fogo pelas ventas. Tinha sido vítima de uma funcionária altamente irritante que, como se não bastasse, fez a pergunta gota d’água: “A senhora está nervosa?!” Minha amiga trincou os dentes e quase se descontrola, mas engoliu em seco. Chegou para nosso encontro ainda sob o impacto daquelas emoções: uma criatura que é lenta, que pergunta seiscentas vezes a mesma coisa, que teima com a patroa, que demora a fazer o que lhe é pedido... e, pra culminar, ainda faz uma pergunta dessas, como se ficar nervosa depois de tudo isso fosse um efeito completamente inesperado!

A pergunta cretina-mor, na minha escala de avaliação, seria o clássico “Você me ama?!” Essa é de doer. O que responder à uma coisa dessas, ora bolas?! Falta bom senso, esse tipo de coisa não se pergunta, se percebe pelas atitudes. E do que vale uma declaração de amor arrancada à fórceps ou declarada num momento saia-justa?! Vou morrer sendo do tipo que prefere as declarações de amor completamente espontâneas e, sobretudo, e mais confiáveis ainda: as declarações de amor por meio de atitudes que falam por si. Sim porque, embora muita gente tenha dificuldades em demonstrar sentimentos, outra gente tem justamente facilidade para verbalizar até sentimentos que não sentem. Ambas as situações são potencialmente nocivas. Tenho uma lista de defeitos considerável, mas estes dois casos não constam na lista.

0 comentários :