Desconectar para conectar

Por motivos variados, sobretudo de ordem técnica, estive ausente por um bom tempo.Embora os motivos de ordem técnica não tenham sido solucionados ainda ( problemas no Word, até mesmo no Works- substituto, no Zoundry Raven- um programa usado para postagem de blogs- estou dando meu jeito.A revolução tecnológica é muito fantástica mas dá nos nervos ao te deixar na mão justo quando vc se encontra quase que patologicamente acostumada com certas comodidades.O blog vai adiante, nem que seja na manivela.Esses empecilhos vieram até a calhar com o tema que escolhi: a importância de se desconectar para se conectar verdadeiramente.Minha observação diária, auto e voyeurística, já tinham me feito refletir sobre o tema, mas este vídeo aqui foi a gota d'água pra sentar AGORA, e nem um minuto a mais, para escrever sobre o tema.


http://www.youtube.com/watch?v=PDa1Ek3LVlc


Na minha trajetória de Yoga, meditação e afins sempre foi frisada a importância de estar focada no momento presente, no aqui e no agora, que é o único espaço no qual podemos verdadeiramente agir.O passado está lá atrás e o futuro não aconteceu ainda.Claro que o passado pode- e deve- ser pedagógico e o futuro esperançoso e planejado, mas isso é bem diferente de uma outra problemática que percebo muito, em mim e nos outros: como se não bastasse a tendência humana natural à evasão do aqui e agora,temos várias ferramentas que dificultam o quadro.

Provavelmente já na Renascença era possível se dirigir a um interlocutor de olhar perdido, completamente desligado do que vc estivesse dizendo, mas com os celulares, sobretudos os com conexão à internet e vários aplicativos, as tvs e todas essas traquitanas que permitem levar músicas e informação para todos os lugares tornam cada vez mais comuns pessoas de corpo presente e mente ausente.Somando-se a isso as exigências profissionais, sociais e pessoais estão muito mais intensas que antigamente, tornando o quadro deveras preocupante.Por exemplo: meu pai, lá pelos anos 60/70, costumava passar horas no barco, completamente incomunicável com o mundo externo, navegando, mergulhando e pescando.Só quem estivesse ali com ele teria a sua atenção e ele talvez pudesse usar o tempo para refletir sobre a própria vida, mas sem nenhuma influência externa.Sem e-mails pra checar, sem celular pra tocar.Devia ser uma maravilha.Hoje em dia não me espanto se os mergulhadores e pescadores checarem e-mails e receberem chamadas de celular até em alto mar.Tecnologia pode ser uma mão na roda, mas também pode ser uma tremenda roda presa.Quem aí já não teve a vida entravada pelo excesso de solicitações de várias frentes, e até quem, por exigência profissional, tem que conviver com isso diariamente?! O telefone fixo toca, toca o celular, chega um e-mail que exige resposta imediata, nisso toca o segundo celular....uma loucura! Vira a batalha para manter a caixa de entrada razoavelmente limpa, os e-mails devidamente retornados, as respostas devidamente dadas.E convivemos com pessoas, em maior ou menor grau, em condições semelhantes, o que potencializa a situação, vira progressão aritmética ou até geométrica...Depois, na hora em que nos dizemos " agora chega, vou desligar o computador, vou fechar a caixa de entrada, vou desligar o celular, a tv, o rádio, largar o jornal de lado, os afazeres profisionais, as preocupações de ordem pessoal, vou tomar um banho e dormir", temos dificuldades homéricas! É um tal senso de urgência instalado em nós que muitas vezes não podemos sequer dormir impunemente.E com isso a insônia, os remédios pra dormir...Logo depois já é hora de acordar e correr para checarmos o que " perdemos" durante o tempo que estivemos dormindo: quais as notícias de hoje, o que está acontecendo no país e no mundo, quem me ligou, quem me mandou e-mail,quem espera uma resposta minha, o que falaram nas redes sociais? Quais questão de trabalho ou não estão pendentes? Hoje em dia não tem jeito mesmo: temos smartphones, laptops com conexão ilimitada, GPSs e, no entanto, muitas vezes ficamos mais desorientados do que nunca sem saber onde deveria estar verdadeiramente o foco da nossa atenção, tão pulverizada naquele momento.E, desnorteados, muitas vezes perdemos tempo com os assunto errados e só depois nos damos conta e nos arrependemos.

Nos acostumamos a fazer várias coisas ao mesmo tempo e continuamos nessa por hábito, mesmo que o momento não exija.Suspeito que dar/ receber atenção plena de alguém é o luxo dos luxos atualmente.Aquela atenção quando vc e o outro estão de corpo e mente presentes ali, sem interferências externas.Levante o dedo quem não esteve em momentos cruciais de conversas, profissionais ou pessoais, e o telefone, seu ou do interlocutor, tocou com uma questão que passou por cima daquela igualmente urgente ou até mais urgente?! E a necessidade inescapável de introjetar um sistema o mais eficiente e justo o possível da hierarquia das urgências? E a etiqueta social e profisional disso tudo?!

A atenção que podemos dar a nós mesmos também é um luxo.Um tempo de pausa, um tempo para relaxar e não pensar em nada ou em bem pouco.Um ócio criativo.Ou um momento a dois, romântico ou não.Ou reuniões profissionais ou sociais a três, a quatro, a cinco, mas com as pessoas ali não apenas de corpo presente.

Tenho feito um esforço consciente para me policiar.De não andar correndo ou esbaforrida qdo não preciso apagar nenhum "incêndio".A não ter senso de urgência quando não precisa ou não adianta.A controlar a minha frequência, conseguindo assoviar, chupar cana e abrir côco quando é imprescindível mas só pelo tempo que isso fôr estritamente necessário, nem um minuto a mais.Porque se deixar no piloto automático a tendência é de viver em contínuo estado de pressão, urgência, premência, alerta, até mesmo nos poucos e privilegiados momentos em que poderíamos nos dar ao luxo de fazer menos coisas de cada vez sem culpa.É um aprendizado demorado, mas creio que vale a pena.

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