"Eu te amo não é bom dia!" ( Renata Iannarelli)

“Eu te amo não é bom dia.” A ótima frase, de autoria de uma blogueira amiga, me inspirou a abordar o mesmo tema. Segundo ela, “ Somos responsáveis pelos sentimentos que provocamos nos outros.”, o que vai na mesma linha de “ Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”, célebre frase de Exupéry em “ O Pequeno Príncipe”.Não vou concordar com o Exupéry, quem acredita nessa máxima torna a própria vida ( e possivelmente a dos outros) num inferno.

A vida é cíclica e há amores ( lato sensu) que se extinguem, seja por combustão espontânea ou provocada. Há até amores que nunca foram, mas tinham um “ ar de”. Somos PARCIALMENTE responsáveis pelos sentimentos que provocamos nos outros e provavelmente estes terão um reflexo também em nós. Se despertamos amor, ódio, compaixão, sentimento de vingança, carinho ou inveja nos outros, mesmo que não sejamos completamente responsáveis por isso e até mesmo inconscientes, isso nos afetará de alguma forma.

Já ouvi de gente de fora do Rio de Janeiro que neste quesito estamos muito piores por aqui. Que aqui se diz “ eu te amo” e congêneres muito mais em vão do que em outras paragens. Acredito. Não sem lamentar profundamente. Quais as razões dessa profusão de “eu te amos”, dessa afetividade incomensurável exaltada publicamente em relações românticas e sociais, declamada de viva-voz ou até publicamente via internet? Diz a amiga que não se diz “eu te amo” impunemente. Muito antes dela, um sábio amigo já me dizia: “ Ninguém transa impunemente, nem mesmo em sexo casual.” Ambos têm razão. E, todos havemos de concordar, atualmente transa-se muito mais do que se ama. E se declara mais do que se ama também, não podia ser muito diferente...

O que as pessoas estão querendo com essas declarações pródigas por aí que são outros quinhentos. E não dá pra generalizar. Por vezes quem diz realmente se acredita imbuído daquele sentimento todo, apenas esquecem-se de acrescentar que costumam ser ( MUITO) volúveis. Sentem com intensidade, no entanto são serial lovers de carteirinha. Amam e desamam com a maior facilidade. Esse tipo sempre me intriga. Parece que usam o amor e a paixão como um droga recreativa.

Há também, sempre, os mal-intencionados/as. Aquele povo que gosta de manipular e induzir o outro em erro. Gostam do exercício da sedução como esporte de auto-afirmação, importando infinitamente mais a prática em si do que o alvo. Não sentem nem um vinte avos do que verbalizam, mas adoram experiências com os sentimentos alheios. Medinho de amar temos todos. Amar é se expôr e se colocar, em alguma medida, nas mãos do outros. Na categoria dos sedutores/as contumazes estão os seres que têm absoluto pavor de envolvimento, de se colocar minimamente nas mãos de alguém mas, no entanto, adoram ter os outros- de preferência vários/as simultaneamente- em suas mãos.

Aqui no Rio há um excesso de declamação de sentimentos- reais ou fictícios- sobretudo em público, que me constrange. Quem nunca recebeu um surpreendente abraço de irmã/ irmão xifópago justo de quem menos esperava em plena via pública? Aqueles abraços que parecem estar no “ pause” tamanha sua duração. Numa dessas, depois que o abraçador foi embora, me virei para uma amiga íntima que estava do lado e perguntei: “ Fulana, você se lembra se eu doei um rim pra essa pessoa? É que agora fiquei meio confusa...”

Quem nunca recebeu beijos melados e efusivos de uma pessoa distante que se acreditava, ou queria se fazer acreditar, muito próxima? Numa cidade em que se dá tapinha nas costas e se diz “ vamos marcar alguma coisa, passa lá em casa, me liga” aos 15 minutos do primeiro tempo com a facilidade que se espirra, fatalmente as relações supostamente mais íntimas também sofrem influência.

1 comentários :

Renata Iannarelli disse...

http://misstresoitao.blogspot.com/2011/03/eu-te-amo-nao-e-bom-dia-sob-outro-ponto.html
Tá lá no blog. Adorei!