Publiquei o texto a seguir originalmente sob a forma de comentários feitos no blog Minimalizo. ( Recomendável, por sinal.)


Oi, Fernanda! Muito bom pode 'trocar figurinhas' contigo já que percebo que a maioria das pessoas não está nem aí pra refletir sobre seus padrões de consumo.Já tive estoque assim como o seu, por 2 motivos:

1.Já fui muito consumista, sobretudo de produtos pro cabelo ( anelado, hey, curly sister! LOL)

2.Ganho muito cosmético! ( ou, espero, ganhava...pq ando sendo bem clara com as pessoas que minimalizei e não pretendo ter nem 1/5 daquele monte de cosméticos que tive.) Deve estar funcionando, pelo menos em parte, pq apesar de ganhar umas tralhas aqui e ali- vc soube, aquelas que devolvi- já ganhei presente super uteis como vales-transporte! rs O que muita gente pode achar sem a mínima poesia e dizer " que horror!", foi algo que realmente me alegrou! =)

Sabe onde acho que morava o cerne do problema, pelo menos pra mim? Inconscientemente, na associação de que ser feminina é ter um monte de tralha cosmética, afinal " mulher é assim mesmo" como se resignam os homens...e depois dizem como a mulher deles acumula tralhas variadas, como a bancada delas na pia tem infinitamente mais coisa, etc...ser mulher-tralhuda virou, além de lugar comum, algo comumente aceito, como o fato de os elefantes terem tromba, os pássaros asas, e por aí vai...algo com o que homens e mulheres se conformam e...bola pra frente! Como se existisse uma espécie de " teto" para mulheres: " aaaah, uma MULHER não pode viver SEM ao menos ___( complete aqui com qq numero de 2 dígitos) cosmeticos, senão pega mal. Pega mais mal, em nossa sociedade, ter poucos cosmeticos do que ter muitos.Vão te achar pobre, vão te achar miserável, vão te achar desleixada, vão te achar mão de vaca, vão te achar Maria Machadão, vão te achar monja, vão te achar freira! Estudei em colégio de freiras e me lembro que presentear as irmãs era assunto delicado...pq elas explicavam que fizeram certos votos de simplicidade, usavam apenas cosméticos simples e até ingênuos como shampoos johnsons e aguinhas de banho bem leves. Aliás, o cortar o cabelo qdo se entra no convento tem a ver com isso: com deixar a vaidade de lado e focar no essencial.O cabelo feminino tem uma carga de sexualidade bastante forte, embora a maioria de nós nem pare para pensar nisso, mas os muçulmanos não deixam passar batido.

Bom, não quero me tornar freira nem monja, quero ser uma mulher com certa vaidade, embora bastante simples. Quero ter cuidados pessoais, mas quero ficar muito aquém do que a sociedade estabelece como padrão desejável. Pq né? Esse padrão que terceiros estabelecem pra nós é o que os americanos chamam de " keep up with the Joneses", ou seja: ficar se comparando com o vizinho! Nessa comparação eterna e doentia, estaremos sempre aquém e sobretudo: sempre reféns-vinculadas às decisões alheias.

Não poderia deixar de citar algo que influía muito nos meus padroes de consumo, tanto de compra propria como de aceitação dos presentes que ganhava. Era eterna sede da novidade que, por sua vez, encobre algo muito pior:  o MEDO de estar perdendo algo fantastico, muito melhor do que tenho. Já foi descrita até essa síndrome, batizada com o nome de FOMO ( Fear of missing out- em Inglês- geralmente associada às redes sociais, ao estar na festa errada, qdo o " amigo" esta na festa muito melhor, na viagem de férias errada, qdo o amigo escolheu o destino melhor, ou até fazendo as escolhas erradas de programação na mesma cidade dos amigos! ( Percebi isso muito lá pra 2008, qdo seguia alguns blogs de viagem...era uma coisa muito " vim, vi e venci" estilo " Louvre-checked, Notre Dame-checked, Torre Eiffel-checked" ou " tal cidade- checked, tal outra-checked..." ou seja: vc não poderia, sob pena de não parar de ouvir pelo resto de sua vida " mas como vc foi em tal lugar e não visitou tal coisa?" Ou pior: qdo a criatura deseja se sentir privilegiada e despeja em cima da outra " aaaaah, menina, vc tinha que ter ido num bistrozinho numa rua deserta de Paris, escondidinho mas fantastico, tem só 5 lugares e vc tem que agendar com antecedência usando a palavra magica " abre-te, sésamo!" rs Ai, uma pena, mas fica pra proxima, né?! 

Ou seja: até em coisas que supostamente seriam para nos dar prazer, como cosméticos e viagens, estamos acorrentadas às escolhas alheias...a menos que passemos a questionar nossas reais necessidades, nossas reais vontades, nossos reais padrões no meio desse ruído todo! Muitas vezes se passa anos engolindo coisas impostas externamente, e crente que aquilo foi uma decisão própria.Não foi.Acordei.

1 comentários :

Rô Rezende disse...

huahuhuahu...adorei esse texto acima dos comentários!

E o blog já foi pro feed.

Eu tenho essa síndrome ai, só que a minha é para blogs (tá, é para um monte de coisas, mas para blog é pior) =[...