Tesão, esse grande vira-latas!

Percebo que as pessoas enchem a boca, sem trocadilhos, para falar do tesão.Colocam-no num patamar acima do que ele, um tremendo vira-lata, merece. (Não, não me crucifiquem os defensores dos simpáticos cães vira-latas.É uma mera figura de linguagem.Cães de raça costumam ser mais exigentes e demandam bem mais empenho.Vira-latas dormem no relento, sobrevivem com muito pouco, abanam o rabo facilmente.)



Tenho a impressão que a nossa sociedade acha que o tesão é rei, é mestre, é comandante.Ele manda, e nós, incapazes de resistir, obedecemos.Não faltam provas ( leia-se burradas.)Vejo pessoas entrando e se mantendo em roubadas tendo como estopim o famigerado tesão.Vejo gente entrando em contenda, amizades se desfazendo.Vejo-o sendo o catalisador de uniões improváveis e desaconselháveis e até desagregador de uniões eficazes já estabelecidas.


Certo que esse é um vira-latas selvagem, difícil de administrar.Como um cão recuperado da vida nas vielas e trazido para a vida em apartamento, nunca estará completamente socializado.Um belo dia, num acesso primal, pode subir na mesa da cozinha atacando a comida em travessas, derrubar as panelas em cima do fogão e causar o maior pandemônio.É fortemente recomendável nutrir por ele certo temor e mantermos nossos pés convenientemente atrás.Não se trata de um poodle toy ou yorkshire.É uma criatura não domesticada, faminta, imediatista, que age no calor dos acontecimentos, por instinto.


Somos todos animais, por mais que aparentemente civilizados.Mesmo tendo casas arrumadinhas com vindas periódicas da faxineira, com compras mensais de supermercado,
e que andemos por aí apresentáveis e de banho tomado, tenhamos atividades profissionais e conta no banco.Tudo isso é superfície.No interior pode jazer, e geralmente jaz, esse grandicíssimo vira-latas: o tesão.


Os cientistas podem me malhar dizendo que se não fosse ele, a civilização não teria chegado a tal ponto para eu poder estar aqui decantando minhas abobrinhas.Certo.Mas agora, que já povoamos a Terra fartamente, podemos tentar pensar com mais sabedoria o que fazer com o tesão.

Decreta Roberto Freire que " Sem tesão, não há solução." Decreto eu: " Só com tesão, muito menos ainda!" É, tem mais: geralmente o tesão é burro.Não pensa, não avalia, não pesa as coisas e as situações.Sai ensandecido fazendo merda, ou doidinho pra fazer.Geralmente só é contido por alguns choques de realidade, nunca espontâneos, sempre por parte de segundos ou terceiros que não estejam sob seus efeitos alucinógenos.Sim, porque esse bicho do tesão é uma droga que altera a visão, a audição e o senso de realidade.

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