Fui de cabeça!

Quando comecei a me aventurar afobadamente no maravilhoso (e imprevisível) mundo das colorações de cabelo, me diziam que algumas estripulias capilares poderiam acabar em cabelocídio. Quando decidi me tornar ruiva,ameaçaram que tal cor era ingrata caso desejasse voltar atrás.Eu nem titubeava.A vida não tem ensaio, dificilmente dá pra voltar atrás, porque com cabelos seria diferente?! E respondia: “Se um dia eu quiser voltar atrás e fôr impossível, raspo o cabelo todo e começo tudo de novo.” Todo mundo se chocava à mera enunciação da idéia e creio que poucos acreditassem que eu fosse realmente capaz daquilo. Afinal, apesar dos pesares, poucas mulheres chegam a esse ponto.Embora devessem.
Dizem que, quando Giorgio Armani esteve no Brasil a primeira vez, perguntaram-lhe o que tinha achado das brasileiras. Ele respondeu: “ Cabelo, muito cabelo!” É verdade que aqui parecemos ter o mito da Gabriela, personagem inesquecível de Jorge Amado encarnado em Sônia Braga- que nunca mais ousou alterar o corte de cabelo, apesar de décadas decorridas.Brasileiras,na maioria,têm receio de cortar os cabelos.Passam anos aparando imperceptivelmente as madeixas.E ficam fulas, claro, quando não reparam suas nano-aparadas de cabelo.Um medo danado de sair da zona de conforto.
Vivi alguns traumas capilares na vida, desde cedo. Tinha uns 8 anos quando entrei no salão para aparar as pontas e, quando a cabeleireira informou que minha cabeça estava infestada de lêndeas, minha impulsiva mãe determinou uma mudança radical compulsória.Entendo os traumatizados que tem mais medo de cabeleireiro do que de dentista.É chato quando se pede uma coisa, fazem outra e cobram ( geralmente caro) por isso.É péssimo querer se embelezar e se piorar.Eu, que já tive metade da sombrancelha arrancada num puxão de cera, sei bem do que estou falando!
Mas... quem não arrisca, não petisca! Vi alguns vídeos de mulheres que passaram máquina nos cabelos que só me animaram. Parecia um mundo novo que eu nem cogitara existir, sobretudo depois de passar os últimos 3 anos testando uma infinidade de cortes curtos e colorações variadas e praticamente não ter mais o que inventar.Entrei no barbeiro da vizinhança. Mostrei como queria e sentei na cadeira, sob o olhar curioso daquele clube do Bolinha, subitamente feito silencioso. Pedi máquina 4.O barbeiro teve a precaução de passar máquina 6 e perguntar se eu queria mesmo mais curto.Sim,queria! Queria a libertação total do meu histórico capilar, queria meus cabelos sem nenhum traço de tintura novamente, redescobrí-los. Ver como é não ter cabelos depois de passar tanto tempo me preocupando e me dedicando a eles.
Saí de lá contente. Não porque estava me achando linda, mas porque estava me sentindo livre. Começar de novo.Do zero.Ou melhor,da máquina 4.Sentir o vento batendo nos cabelos de um jeito jamais sentido. Sentir o gostoso tapetinho capilar que a máquina cria. Sentir o olhar variado (surpresa/horror/pânico/curiosidade/ admiração dos outros.) Na verdade, indico a experiência para quem quiser se testar.E testar os outros, naturalmente....rs.

1 comentários :

Ana - Hoje Vou Assim OFF disse...

Na verdade, é preciso ter muito "colhão" para ser mulher. Seja com cabelos tosados, seja com cabelo comprido. Bravo!