Gentileza

Não me identifico com a patrulha do politicamente correto total que assola o mundo de forma tão aborrecida. Nunca tive sequer aquela batida camiseta pregando que “ Gentileza gera gentileza”. Acho um porre lições de moral, gente que sobe no pedestal para, do alto, dar à plebe conselhos não solicitados que geralmente eles mesmos não cumprem. Nada disso.

Um texto de Fernanda Mello, “Mais gentileza, por favor!”, me fez refletir mais a questão recorrente: como achamos desculpas para a falta de gentileza no mundo moderno. É o tempo,é o trânsito, é o estresse.Desculpas não faltam, somos pródigos em achá-las.

Suspeito que não é considerado nada cool ser muito educado. Virou coisa meio fora de moda.Sempre me lembro de uma amigo que foi morar na Alemanha.Voltou me contando que aprendeu rápido que não devia abrir a porta do restaurante da universidade para suas colegas.Recebeu um “ Eu não preciso de você pra isso” nas fuças logo e parou de tentar.Lá, segundo ele, era uma questão de feminismo.

Isso tudo é muito complicado, diga-se de passagem. Vamos nos adaptando às circunstâncias e baixando nossas expectativas, tanto com relação aos outros como com relação a nós mesmos.E o que é pior: quase sem sentir.

Ante a reação alheia, já me senti anacrônica ou inadequada num ato de gentileza ou mera educação. Quem não se sentiu idiota por dirigir protocolares “ bom dias” a vizinhos variados e ser ,sistematicamente, deixado no vácuo? Um dia, a criatura cansa de tomar iniciativa. No pólo passivo, pode ser quem fôr, sempre respondo.Aprendi com meu avô.Certa vez andávamos pela rua onde ele morava e,ao passar por um pé-sujo da vizinhança, um consumidor inveterado de artigos alcoólicos se precipitou afobadamente para a porta do estabelecimento e disse e alto e bom som: “ Boa tarde, Dr. Carlos!” Meu avô- que não se chamava Carlos- respondeu com sua não-efusividade cordial habitual: um sorriso de Monaliso, um meneio reverente de cabeça e continuamos andando.Não me agüentei e encarei interrogativamente meu avô.Ele respondeu: “ Ele me cumprimenta assim há pelo menos vinte anos.Que importância tem se eu não me chamo Carlos?” Lição dada, lição aprendida.

3 comentários :

Paula disse...

Eu sempre dou bom dia e sorrindo, e se a pessoa me deixa no vácuo a vergonha deve ser dela de não ser civilizada, não minha. Antigamente eu também tinha essa ideologia e que se eu dou bom dia pra mesma pessoa sempre e ela não responde, eu deveria parar. Hoje não, eu dou, não vou deixar a falta de educação dos outros fazer eu me tornar mal educada.
Ainda bem que nas cidades onde morei (Salvador e Manaus) as pessoas quase sempre respondem bom dia, tipo, quase sempre mesmo, não me lembro da última vez que não me responderam. Dizem que em BSB o pessoal não dá.

Juliana Desbra Vando disse...

Taimemoinonplus, voltei a blogar e vim te procurar - mas vi que voce desativou o seu blog. Volta, volta!
Fronteirices
http://fronteirices.blogspot.com/

Taimemoinonplus disse...

Oi, Desbra Vando! =) Quanto tempo, menina! Voltarei! ;-) Ah, e estou indo te " visitar"! hehe