Sobre a praticidade absurda do cabelo curto e a praticidade absurda do cabelo longo

Recentemente, passei uns 4 anos com o cabelo bem curto. Tudo começou quando resolvi fazer uma viagem longa com uma mochila minimalista, ficando em albergues e na casa de pessoas, e achei que meu cabelo no meio das costas poderia ser um estorvo e sobretudo aumentar a duração dos meus banhos.Como queria praticidade, escolhi um Chanel curto para viajar.Ao longo do trajeto, o cabelo crescendo, resolvi diminuí-lo mais ainda.

Ao voltar para o Brasil, estava fisgada pela novidade de ter cabelos curtos, gastando menos shampoo, não precisando hidratar, podendo desembaraçá-lo rapidamente e gostando do que via no espelho. (Mas confesso que a transição do Chanel curto para o curtíssimo não foi mole.Entrei no salão decidida e saí dele feliz, mas no dia seguinte cadê que eu, acostumada a lidar com cabelos médios e compridos, conseguia deixar meu novo curto de um jeito razoavelmente interessante? Depois de alguma prática e alguns momentos intensos e meteóricos de arrependimento, tudo entrou nos eixos.)

Assim, em 4 anos, experimentei incontáveis cortes diferentes com vários cabelereiros e aproveitei para passar por uma experiência que achava que toda mulher tinha que passar: pintar os cabelos. Como estavam curtos, tudo supostamente seria mais simples. (Num dia em que, mesmo com os cabelos curtos, passei 3 horas e meia num salão para sair loira, percebi meu engano.)

Minha conclusão principal foi que nada pode ser MENOS prático na vida de uma mulher do que pintar os cabelos. Toma um tempo e uma energia danada! Você tem que planejar, negociar, agendar, pensar, ter tempo, dinheiro e paciência de Jó disponíveis para o processo e pós-processo ( cuidados extras frequentes, mais tempo na sua rotina diária, mais produtos para manter a cor, a hidratação, etc). Sem falar que ainda leva sustos! Não vejo ninguém comentar esse lado altamente inconveniente, mas aquele cabelo loiro que estava lindo antes da sua "noitada romântica agitada"pode acordar um constrangedor mafuá de espantalho embolado no dia seguinte, só resolvido com uma boa lavada e quilos de condicionador, paciência ao desembaraçar e finalizador. Muito, muito chato. O rei está nu mas ninguém comenta.


Voltando ao foco principal do post, cabelo curtinho pode ser muito muito prático. Se vc não ficar tentada a inventar muita moda, complicar: ficar pesquisando mudanças de corte/ cor frequentes deliberadamente. Na verdade, nem precisa se dar ao trabalho: mesmo que você queira exatamente o mesmo corte, exatamente a mesma cor, com exatamente o mesmo cabelereiro, DESISTA. Nunca vai ficar igual, por mais que vc peça ou deseje. Desapegue-se completamente dessa expectativa irreal, a menos que o corte escolhido seja máquina 4 ou menor. Em termos de cor, nem com a mesma tinta. Uma hora o tom clareia demais, outra clareia de menos. Desbota. Enche o saco. O imponderável caminha junto com a coloração de cabelos e com como as lavagens posteriores, o sol, etc irão agir nele.Cada dia no espelho perceberás alterações, bem-vindas ou não. Se considera que já há imponderáveis demais na sua vida- e dos quais você nem tem como fugir- faça como eu: evite mais esse.


Quando passei a máquina 4, fiquei deslumbrada: dormir penteada e acordar penteada, no matter what, que inédito! Banhos: vários por dia, podendo lavar o cabelo em todos eles. Não contabilizar sequer 2 minutos para ajeitar o cabelo diante do espelho. Libertador.Sem falar que o corte à máquina não tem maiores sobressaltos, o comprimento é definido pelo pente da máquina, um dedo é um dedo com precisão técnica.Ainda por cima, é o tipo de corte mais barato que se terá feito na vida.E pode ser feito em qualquer barbeiro de esquina do mundo, no local mais rústico e fora do mapa.Não tem mais essa de "meu cabelereiro". Qualquer um pode ser, até a vizinha, a amiga, o marido, o síndico...rs Qualquer um consegue. Até eu.


O inconveniente dos cortes curtos feitos com tesoura é que não são baratos como os feitos à máquina, não são tão precisos e requerem manutenção constante. Rapidamente saem do corte e ficam meio sem jeito.A máquina 4, eu brinco que foi o corte mais barato da história pra mim.Devo ter pago uns 10 reais em 2011 e completei 2 anos direto sem cortar, nem sequer para aparar as pontas.Não teve essa de "fora de corte", foi crescendo- para meu espanto- de forma bem aceitável. Aliás essa conversinha de "aparar as pontas"é uma na qual não caio mais. Ainda mais quando acrescentam que precisa ser feito "para dar força por cabelo". Não sei como passei minha vida acreditando nisso!


Atualmente estou com o cabelo virgem uns 4 dedos abaixo dos ombros ( a parte maior, pois a "franja"está na altura do queixo). Descobri que também pode ser muito prático: vc prende quando quer em rabo de cavalo, coque ou alguma outra modalidade. A grande verdade é que cabelo, quando você não gasta muita energia mental/ tempo ou grana com ele, curto ou comprido, não dá trabalho! rs